terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Valeu a pena

Alto. Magrela. Cabelos compridos e loiros, por vezes, despenteados. Barba por fazer. Jeito de surfista. Caminhar desengonçado. Brasileiro. Todas essas características somadas podem trazer várias imagens à cabeça, mas dificilmente será a de um tenista. Pois, Gustavo Kuerten é assim. Com esse jeito de “manézinho da ilha”, que torce para o Avaí e “queria” ver o centroavante Jacaré na Seleção, ele conquistou o topo do tênis mundial.

Para nós, ele é simplesmente o Guga. Um baita cara! Que perdeu o pai ainda criança. Que seu irmão mais novo possuía deficiência física e mental, a quem dedicava todos os seus troféus. Que sempre escalava as arquibancadas após cada conquista para beijar e agradecer sua mãe. Que convidava a vovó Olga para dar uma passeada de Mercedes em plena quadra de jogo. Seu coração é tão grande, que criou o Instituto Gustavo Kueten para atender crianças carentes. Nunca mudou seu jeito simples de ser.

Não bastasse essa generosidade, ele jogava muito. Era um monstro. Fez o país incorporar no cotidiano expressões como back hand, for hand, slice, smash, entre outras. O brasileiro, após a morte de Senna, voltou a acordar cedo nas manhãs dominicais com a esperança de almoçar com a alma lavada. Além de calçar chuteiras, o Brasil passou a ser a pátria de raquetes. As crianças improvisavam quadras para imitar o mais novo ídolo.

Guga foi por 20 vezes campeão, tendo chegado à decisão de um título em 29 oportunidades. Liderou o ranking por 44 semanas, quase um ano inteiro. Por três vezes foi imbatível em Roland Garros. Superou em quadra nomes como Samparas, Agassi, Federer, Mustar, Hewitt, Rafter, entre outros. Fez o Brasil voltar a brilhar na Copa Davis, levando a equipe quase sempre nas costas. Na carreira venceu 358 jogos e saiu derrotado 191 vezes. Um aproveitamento de 65%, campanha digna de campeão brasileiro de futebol. Um fenômeno. Tornou-se um nome da envergadura de Pelé e de Senna.

Esse rapaz anunciou nesta terça-feira que vai pendurar a raquete. As dores no quadril, após duas cirurgias, o tornaram presa fácil para os adversários cada vez mais fortes fisicamente. Ele quase não jogou nas últimas três temporadas, mas não precisava. Seu nome já está na história do esporte brasileiro. Pena que os dirigentes não aproveitaram a chance para garimpar novos talentos no esporte. Seu adeus será em Roland Garros, seu torneio favorito.

Já da para imaginar como será a despedida de Guga das quadras. Paris amanhecerá com um lindo dia. Poucas nuvens num céu azulado. A quadra central estará lotada para ver Guga jogar. Até a bolinha quicar duas vezes no solo pela última vez, todos ainda terão esperança de que Kuerten ainda poça vencer e ser campeão pela quarta vez. Mas não dá mais. Não precisa. O trabalha já foi feito, muito bem feito.

Valeu, Guga.
Valeu, Campeão.

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