quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Materazzis e Aládios

A disputada do Torneio de Dubai pelo Inter provocou alguns fenômenos interessantes. Primeiro subitamente apareceram amantes e profundos conhecedores do futebol internacional. Enquanto o Manchester United ganhava destaque pelo seu futebol apresentado nos campos ingleses e todos apreciavam as apresentações de “Andershow”, os “Diabos Vermelhos” foi alçado como o melhor time do mundo no momento. A Inter de Milão, de campanha irretocável na Itália, era deixada em planos inferiores.

Mas o futebol é dinâmico. Poucos dias antes do natal, com o futebol brasileiro completamente parado, ocorreu o Derby de Milão, num abarrotado e gélido San Siro. Com a ajuda do goleiro Dida, a Inter venceu por 2 a 1. Agregue-se a isso a proximidade da competição no mundo árabe e pronto. Como passe de mágica e de maneira instantânea, o clube italiano se tornou o melhor time do mundo.

O discurso, na verdade, era preventivo. Eleva-se a Inter a um patamar altíssimo, para que se caso ocorresse uma catástrofe no confronto, a explicação estava na ponta da língua. O jogo foi um prato cheio para os ufanistas, com síndrome de vira-lata, de plantão. Na véspera do confronto entra os homônimos, o técnico italiano numa sinceridade incomum disse não conhecer nada sobre o time gaúcho. Pau no italiano! Mas como ele não conhece nada do time campeão mundial de 2006? Ele não acompanha futebol? Indagaram os defensores do futebol brasileiro.

Não, ele não conhecia e não precisava conhecer. Primeiro porque dos jogadores que bateram o Barcelona apenas Wellington Monteiro, Alex e Fernandão atuaram contra a Inter. Ou seja, o colorado foi desmanchado. Segundo, a Inter disputa a Serie A do italiano e a Copa dos Campeões, por tanto, Mancini não precisa observar os clubes brasileiros.

A declaração ficou engasgada na garganta. O melhor time do mundo já não era tão bom. O zagueiro Materazzi foi comparado a Aládio, aguerrido zagueiro de pouca técnica que distribuía patadas pelos campos gaúchos. O centroavante argentino Hernan Crespo, com três Copas nas costas, foi taxado de velho e mandaram-no para a fila do INSS.

Então, as equipes entraram em campo. O Inter venceu por 2 a 1, num clima de “Mundial Segunda Edição”. Era o que faltava para elevar a discussão a outro nível. Agora, passava-se a questionar a qualidade dos certames do velho continente. Apesar de todos terem dito durante os sete meses em que o Brasileirão foi disputado que o campeonato estava nivelado por baixo. O futebol é dinâmico, o colorado venceu e tudo foi esquecido.

Apesar do resultado de segunda-feira, as situações seguem imutáveis. Os clubes tupiniquins não possuem elenco para disputarem ponto a ponto a liderança dos grandes torneios europeus. Alguns fatos precisam ser relembrados. O Inter se preparou para a competição, antecipou as férias de seus jogadores. Recomeçou a preparação física logo após o natal. O elenco do clube, a exceção de Edinho e Sorndo, estava sem desfalques. Porém, num campeonato de 38 rodadas, como o italiano, o espanhol e o inglês, lesões, suspensões, acarretando em improvisações são inevitáveis. A Inter jogou para ganhar, mas não deu o coração pela vitória, tanto que após o apito final, os interistas estavam sorridentes no gramado.

Vale lembrar que durante primeiro turno da Série A, a equipe de Milão foi perdendo jogadores importantíssimos e que anda não voltaram de lesão. Mesmo assim não perdeu qualidade. Começou com Materazzi na início da temporada. Ainda estão no time da enfermaria Figo, Stankovic, Dacourt, Viera, além de recentemente entrar Samuel. Tire do time quatro jogadores e fatalmente a qualidade não poderá ser mantida.

Outro fator colocado para, agora, se questionar a qualidade do futebol praticado no exterior é que são sempre os mesmos clubes que levantam a taça. É verdade. Porém, na Europa, há quase um século não há formulismo, fato que no Brasil é recente. Além disso, vencem sempre os mesmos, pois enquanto equipes médias e algumas pequenas possuem times bons, ajeitados, os clubes de ponta tem no seu elenco verdadeiras seleções mundiais de dar inveja a qualquer esquadrão montado pela Fifa.

Ou será que os europeus são tão burros? Vieram a Porto Alegre e pagaram uma fortuna para ter Alexandre Pato. Deveriam ter pegado o dinheiro e comprado todos os outros titulares do Inter, afinal segundo alguns o time teria condição de brigar pelo título nas ligas européias.

O ponto aqui, é que uma vitória fora de contexto, não faz dos clubes brasileiros mais fortes, nem os europeus mais fracos. Os “top de linha” daqui fariam campanhas medianas lá. É uma questão de fôlego. Não disputam partidas de exceção e se vence na superação durante 38 rodadas. O limitado time do Grêmio na Libertadores foi a prova disso.

Quanto às comparações, se continuarem desse jeito, o futebol acabará e a Fifa pedirá concordata. Pois quem irá transmitir uma final de Copa do Mundo onde o Aládio é titular? Os ufanistas vão se defender dizendo que o Brasil só não ganhou o último Mundial porque os jogadores estavam fora de forma. Mas futebol se ganha dentro e fora de campo, como o próprio Inter já mostrou.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordando que os times da América do Sul não teriam fôlego pra disputar algum campeonato europeu de pontos corridos, pondero:

a) Os treinadores europeus são piores que os brasileiros.

b) Se o Materazzi (que estragou a vida de um dos 15 maiores jogadores da história do futebol) jogasse no interior do RS, faria com Aládio uma dupla de zaga de pebolim, tirando todas as bolas do estádio.

c) Por melhor que os europeus possam um dia ser, nunca estão preparados pra um gol de bicicleta como o do Nilmar.

d) Se o Mancini fosse UM POUCO inteligente, procuraria saber como é o Inter. Assim como o Abel acompanhou a Inter (ainda que os italianos não joguem o mesmo campeonato dos gaúchos), é OBRIGAÇÃO de um treinador saber o que o adversário tem pra oferecer de dificuldades.

e) Parabéns pelo blog, irmão!