sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Futebol e religião

O ditado diz que futebol, política e religião não se discutem. Na verdade, esses são os pontos que realmente geram polêmica e, por isso, são debatidos à exaustão, sim. Mas e quando dois desses temas estão juntos, como fica?

O início da temporada do futebol europeu coincide com o mês do Ramadã. São dias sagrados para os muçulmanos, que devem jejuar. Com a globalização do esporte, diversos seguidores desta religião atuam em equipes importantes no Velho Continente. Durante este período sagrado, os muçulmanos focam sua fé, passando menos tempo preocupados com os afazeres cotidianos. É um momento de contemplação, onde deve-se jejuar durante o dia. A alimentação só pode ser feita quando não há mais a luz do sol.

Recém saídos de uma extensa pré-temporada, os primeiros jogos dos campeonatos são importantes para a manutenção do preparo físico dos jogadores. Uma refeição por dia não é o suficiente para manter o nível físico para um atleta de alto rendimento. A hidratação imediata após os jogos e os treinos é essencial para a recuperação do jogador e a diminuição da fadiga pós-exercício.

Para ficarmos apenas no futebol italiano, na primeira rodada do calcio, alguns treinadores lidaram de maneiras diferentes com o problema. Na Inter de Milão, José Moruinho colocou desde o início da partida o ganes Muntari, substituído ainda no primeiro tempo. O treinador justificou a troca devido ao Ramadã, um explicação pouco estranha, já que sua Inter não fazia boa atuação diante do Bari. Porém, no decorrer da semana, ele reafirmou que a reliogisidade de seu jogador não lhe traz benefícios. A declaração gerou a ira dos fundamentalistas islâmicos, que chegaram a ameaçar o português de morte. No Genoa, Gian Piero Gasperini deixou o marroquino Kharja no banco durante toda a partida contra a Roma.

Na Juventus, Ciro Ferrara não pode contar com Sissoko. Porém, na temporada passada, Claudio Ranieri teve de lidar com o problema, vendo o imponente meio-campista perder rendimento no final das partidas, principalmente, nos confrontos disputados à tarde. Três semanas jejuando causaram cansaço ao jogador, que acabou perdendo sua titularidade.

O tema causou polêmica na cristã Turim, onde localiza-se o Santo Sudário. Os mais exaltados consideraram a atitude de Sissoko como um desrespeito ao clube, pois ele recebe seus salários em dia e não rende o seu máximo em campo. Os mais moderados entendiam sua escolha.

Em um esporte onde as fronteiras foram derrubadas há bastante tempo, ainda há espaço para o fanatismo religioso? Os clubes devem promover algum tipo de punição devido à fé de seus jogadores ou devem relevá-la? Os estrangeiros que atuam em países árabes, não são obrigados a seguirem os ritos do Ramada, mas precisam se adaptar à cultura da região. E quanto os jogadores muçulmanos que atuam fora de seu país de origem, eles devem seguir suas tradições ou devem se adaptar e seguir os costumes locais?
Se discutir futebol e religião é complexo. Imagina quando os dois se fundem!